ATA DA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 05.03.1998.

 


Aos cinco dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quarenta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Dia Internacional da Mulher, nos termos do Requerimento nº 17/98 (Processo nº 266/98), de autoria da Mesa Diretora, e à entrega do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Senhora Izabel Ibias, nos termos do Requerimento nº 186/97 (Processo nº 3169/97), de autoria da Vereadora Anamaria Negroni. Compuseram a MESA: o Vereador Clovis Ilgenfritz, Presidente em exercício da Câmara Municipal de Porto Alegre; a Senhora Leda Argemi, Secretária-Substituta da Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Senhora Janice Machado, Secretária-Geral de Governo, representando o Governador do Estado do Rio Grande do Sul; a Deputado Jussara Cony, representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Maria da Glória de Almeida, Defensora Pública do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Dailce Leite Miotto, Diretora do CIERGS-FIERGS, representando o Presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul; a Professora Tânia Heinrich, representando a Secretária Estadual de Educação; a Senhora Antonieta Barone, Presidente de Honra da Aliança Francesa e do Centro Franco-Brasileira; a Senhora Izabel Ibias, Homenageada; a Vereadora Anamaria Negroni, Secretária "ad hoc". Ainda, foram registradas as presenças do Senhor Arines Ibias, esposo da Homenageada; dos Senhores Luciano e Ismália Ibias, filhos do Homenageado; da Senhora Maria de Fátima Reis, representante do Gabinete do Vice-Governador do Estado; da Senhora Carmen Mazzardo, representante da Ordem dos Advogados do Brasil; da Senhora Shirley Ferreira, representante do Deputado Paulo Odone; da Senhora Cláudia Fraga, representante do Departamento de Cidadania de Porto Alegre; do Senhor Sílvio Lafin, representante do Secretário de Ação Social da Arquidiocese; da Senhora Jaqueline Arvocen, representante da Associação Nacional de Gerontologia; da Senhora Maria Regina Teixeira, representante da Biblioteca Pública Lígia Meurer; da Senhora Jussara Costa, representante do Conselho Estadual do Idoso em Porto Alegre; da Senhora Ronalda Salermo, representante do Conselho-Geral de Clube de Mães; da Senhora Deusdedite Santos de Souza, Coordenadora do Conselho Municipal de Mães de Porto Alegre. Também, foi registrado o recebimento de correspondência da Senhora Margareth Nunes, da Coordenação dos Direitos Humanos e Cidadania - Assessoria da Mulher, cumprimentando a Senhora  Izabel  Ibias. Em  prosseguimento, o  Senhor   Presidente  convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Anamaria Negroni, como autora do Requerimento nº 186/97 e em nome das Bancadas do PSDB, PMDB, PFL e PDT, analisou o significado da luta sempre empreendida pelas mulheres contra a discriminação e na busca de seus direitos, discorrendo sobre a vida pessoal e profissional da Senhora Izabel Ibias e destacando a justeza do Título hoje a ela entregue. A Vereadora Maria do Rosário, em nome das Bancadas do PT e do PSB, salientou a importância do registro, pela Casa, do Dia Internacional da Mulher, defendendo o uso desta data como um momento de reflexão e de recuperação da história da mulher, da sua procura constante por "um caminho de igualdade que abra espaço, no sentido de que o poder seja vivido por igual entre todos na sociedade". O Vereador Jocelin Azambuja, em nome da Bancada do PTB, saudou a Senhora Izabel Ibias, discorrendo, em especial, sobre a participação de Sua Senhoria nas mobilizações pelo direito a uma educação melhor para todos os brasileiros. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PPB, teceu considerações acerca do Dia Internacional da Mulher, afirmando que "a história e o tempo nos evocam mulheres de inegável valor que superaram preocupações, preconceitos e toda sorte de restrições". O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, ressaltou que "a mulher está reassumindo no mundo o papel que lhe cabe", declarando que "o Estado, como instituição, precisa ser aprimorado, para entender essa evolução e contemplar a mulher com a posição que a ela cabe". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para assistirem, em pé, à entrega da Medalha e do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Senhora Izabel Ibias pelos Vereadores Anamaria Negroni e Clovis Ilgenfritz e pela Senhora Leda Argemi. Também, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Homenageada, que agradeceu o Título recebido, falando sobre sua atividade artística e analisando a necessidade de participação de todos para que as mulheres consigam concretamente conquistar e manter seus direitos sem perder a própria identidade. Em prosseguimento, as  Senhoras Cláudia Fraga e Sônia Vaz, em nome do Movimento das Mulheres Trabalhistas e deste Legislativo Municipal, procederam à entrega de lembrança à Senhora Izabel Ibias. Durante a Sessão, foi apresentado número artístico pelo Grupo Boca de Cena, integrado pelos atores Sérgio Mantovani, Odette Picheco, Maju Volkmer, Nádia Martiny e Eliane Melete e dirigido pelo Senhor Arines Íbias. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para ouvirem, em pé, à execução do Hino Riograndense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e quinze minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clovis Ilgenfritz e secretariados pela Vereadora Anamaria Negroni, Secretária "ad hoc". Do que eu, Anamaria Negroni, Secretária "ad  hoc",  determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Quero cumprimentar todos os presentes, Senhoras, Senhores, Vereadores e Vereadoras, nossos convidados. Estamos iniciando a 1ª Sessão Solene, da 2ª Sessão Legislativa Ordinária, desta XII Legislatura. Esta Sessão Solene é destinada a homenagear o Dia Internacional da Mulher e à entrega do Título de Cidadã de Porto Alegre a Sra. Izabel Ibias. É com muita honra que eu presido esta Sessão Solene. Ela acontece em função do Requerimento nº 17/98 - Proc. nº 266/98 e do Requerimento nº 186/97 - Proc. nº 3169/97. O primeiro é de proposição da Mesa Diretora e o segundo de proposição da Vera. Anamaria Negroni.

Para dar início aos trabalhos, vamos convidar as pessoas para comporem a Mesa, a iniciar pela representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre, a Sra. Leda Argemi, Secretária-Substituta da Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer; a representante do Governador do Estado, Sra. Janice Machado, Secretária-Geral de Governo; a Sra. Maria da Glória de Almeida, Defensora Pública do Estado do Rio Grande do Sul; Deputada Jussara Cony, representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; Sra. Dailce Leite Miotto, Diretora da CIERGS-FIERGS, representando o Presidente da FIERGS; Profa. Tânia Heinrich, representando a Secretaria Estadual de Educação; Sra. Antonieta Barone, Presidente de Honra da Aliança Francesa e do Centro Franco-Brasileiro e nossa Cidadã Emérita, a homenageada, Sra. Izabel Ibias. (Palmas.)

Convidamos todos os presentes  para a execução do Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Registramos a presença das Vereadoras Anamaria Negroni, Maria do Rosário, Vereadores Henrique Fontana, Pedro Américo Leal, Lauro Hagemann e Jocelin Azambuja.

Está com a palavra  a proponente da homenagem, Vera. Anamaria Negroni, que falará em nome das Bancadas do PSDB, PMDB, PFL e PDT.

 

A SRA. ANAMARIA NEGRONI: (Saúda os componentes da Mesa.) Esta Sessão Solene ... Quero salientar que me encontro inteiramente à vontade para falar nesta Sessão, sendo mulher, e homenagear o Dia Internacional da Mulher, dia oito de março de cada ano. A minha tranqüilidade se baseia no fato de que toda a minha vida venho lutando, em todos os espaços possíveis, através da política comunitária, antes e, agora, através da política partidária, contra toda e qualquer discriminação: a social, a racial, a religiosa, a sexual e, sem dúvida nenhuma, a discriminação contra as mulheres. Infelizmente os movimentos femininos, de forma dura e até agressiva, num tempo já passado, têm ganho espaços cada vez mais expressivos, de forma geral. Nossas lutas vêm proporcionando vitórias sobre vitórias. Falta muito, é verdade, mas estamos chegando, rapidamente, a um lugar que é nosso por direito. Poderíamos falar, aqui, em tantas mulheres que têm conseguido, hoje, um espaço que antes era somente de homens. Poderíamos falar da primeira Tenente, da primeira Desembargadora, da primeira Presidenta da Associação Brasileira Letras, e assim por diante. Poderíamos falar de mulheres políticas, desde Cleópatra até as mulheres dos dias de hoje; citando as nossas mulheres que fazem carreira política no nosso Brasil, como Yeda Crusius, Emília Fernandes, que hoje são indicadas a pré-candidatas ao Governo do Estado. Temos aqui nesta Casa, pela primeira vez, entre trinta e três Vereadores, cinco Vereadoras. A Vera. Maria do Rosário, que foi uma das mais votadas do Brasil e, embora não seja do meu Partido, acredito que muito orgulha Porto Alegre, aqui está presente. Com quase 21 mil votos, foi eleita Vereadora desta Capital. Esta Capital também elegeu mais quatro Vereadoras, e, dessas quatro, tivemos a felicidade de eleger uma mulher negra, pela primeira vez na história desta Câmara, acredito que na história da política do Estado do Rio Grande do Sul.

Quero homenagear neste dia, além dessas cinco Vereadoras, dessas cinco Deputadas, de nossas Deputadas Federais, de nossa Senadora, nossa Desembargadora, nossa Reitora, quero homenagear, de forma muito especial, a nossa querida Izabel Ibias, que recebe de nós uma atenção maior, pois representa, por indicação da Mesa, as mulheres neste dia tão especial.

Cabe salientar que este título foi concedido através de Projeto de Lei proposto por esta Vereadora, foi aprovado por unanimidade nesta Casa. Todos os Vereadores fizeram questão de assinar o nosso Projeto de Lei, independentemente de partidos. E faço questão de frisar, inclusive, que embora a nossa querida Izabel Ibias seja uma militante do PMDB, está sendo homenageada hoje de forma bastante democrática por todos nós desta Casa, por todos os partidos. Esta minha iniciativa, inclusive, me honra muito, porque não sou do seu Partido, sou do PSDB e isso é lindo, isso é a verdadeira democracia. Aqui não se trata de partido político mas da mulher, da pessoa, da competência.

Izabel Ibias é filha de uma família de cinco mulheres e quatro homens, certamente, carregou consigo vitórias e força. A força de alguém que nasceu para lutar e vencer, e daí vieram as vitórias, que estavam destinadas a ter como palco Porto Alegre, já que saiu de Santiago - sua terra natal -, com apenas nove anos de idade, vindo para a nossa Capital. Estudou desde o curso primário até a sua formação em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em Pelotas formou-se em Artes Plásticas pela UFPEL. É pós-graduada - especialização pela UFRGS e, atualmente, cursa pós-graduação e especialização em Gerontologia Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Em 1968, Izabel Ibias começou sua carreira de atriz, de teatro e cinema, e foi, na verdade, o início de um trabalho que serviu para projetar Porto Alegre, levando a arte e a cultura de nossa terra além das fronteiras. Foram quarenta e duas peças teatrais e oito filmes, sendo o último o consagrado "Lua de Outubro", participante de festivais nacionais e internacionais.

Quanto à indiscutível qualidade do trabalho e capacidade de Izabel Ibias basta mencionar os inúmeros prêmios e troféus que recebeu, inclusive, desta Casa, que a distinguiu com o troféu "Qorpo Santo". Foi consagrada, ainda, com troféus Cultura Nacional, Cultura Estadual, Distinção, Mulher de Ouro, Escada/Teatro, Diálogo/Tevê Bandeirantes e Rosas de Maio.

Como Diretora da Casa de Cultura Mário Quintana, iniciou um trabalho que por si só consagraria Izabel como uma mulher interessada, integrada à realidade e à sociedade. Foi na Casa de Cultura que ela abriu espaço para a terceira idade, criando e coordenando projetos que oportunizaram uma freqüência diária de mais de mil pessoas. Ela é pioneira no atendimento da terceira idade. Isso nos engrandece, Izabel, porque, por muitas vezes, as pessoas já na maturidade estão esquecidas. E você as valorizou na área cultural.

Isabel é criadora e diretora do grupo de teatro “Sem Teias”, formado por atrizes profissionais de 54 a 80 anos, em atividade há onze anos no Estado. É também criadora e coordenadora do Projeto "Ensina-me a Viver" de atendimento à terceira idade nas áreas de educação e cultura. ex-assessora da Associação das Diplomadas Universitárias, Izabel atualmente é assessora técnica da Secretaria da Educação, onde coordena ações voltadas para a integração de gerações e a qualidade de vida. É Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher; Conselheira do Conselho Estadual do Idoso, como representante da Secretaria de Educação; Assessora Técnica da Associação Nacional de Gerontologia; Vice-Presidente Alterna da União Latino-Americana de Mulheres. Além disso, é destacada apresentadora de televisão, tendo iniciado em 1971 na antiga TV Gaúcha, hoje RBS TV. Atualmente coordena e apresenta o programa "Viva Bem" na TVE.

Certamente a qualificação do trabalho de Izabel Ibias seria suficiente para que esta homenagem estivesse justificada. No entanto, tudo é pouco diante da mulher que ela é. É na sua força de mulher aguerrida, na sua capacidade de trabalho, na sua vontade de lutar e fazer o bem que Izabel consegue um brilho e um destaque maior. E na sua capacidade de amar o próximo está o segredo de sua trajetória vitoriosa. O prêmio que recebe, hoje, desta Casa é o reconhecimento por tudo o que foi relatado aqui. É um prêmio que, posso afirmar, ela divide intimamente com todos os seus colegas, amigos e companheiros, principalmente aqueles que, muitas vezes, renasceram em atividades que ela criou para a 3ª idade. O prêmio é de Arines, seu marido há trinta anos, dos filhos Luciano e Izmália e também da netinha Giovanna.

Mas o orgulho maior, indiscutivelmente, é da Cidade, é de todos nós que a partir de hoje entregamos a Izabel Ibias o Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre.

Gostaria de encerrar meu pronunciamento dizendo a você Izabel que, neste momento, não a invejo pelo título que lhe é concedido. Não a invejo, porque sempre vi a inveja como sentimento alimentado apenas por pessoas mesquinhas, porém a felicito e me congratulo imensamente com você.

Sinto-me honrada por ter sido a promotora, o veículo da vontade, não só da unanimidade dos meus Pares bem como, certamente, de todos os cidadãos desta Capital.

Como mariliense de nascimento e porto-alegrense de coração e por opção, trabalho e trabalharei incansavelmente em prol dos discriminados de forma geral e da maioria desassistida do povo brasileiro. E quem sabe um dia, esta porto-alegrense de coração possa ter seu trabalho reconhecido pelo povo de Porto Alegre e, desta forma, ser digna de receber tão honroso título. É trabalhando, é realizando, é ajudando a construir Porto Alegre que filhos não-naturais desta Capital poderão ser agraciados com tão excelso honor.

Assim completo minha homenagem, dizendo que a felicito e que me sentirei muito honrada, quando, um dia, se Deus quiser e o povo de Porto Alegre assim o decidir, de poder sentar-me ao seu lado e ao lado dos demais cidadãos de Porto Alegre, cidadãos eméritos e honoríficos desta Cidade. Parabéns, felicidades e muito sucesso.

Izabel Ibias, tenha certeza de que este Título apenas servirá como estímulo maior para os seus novos empreendimentos em prol da nossa querida Porto Alegre. Que Deus continue iluminando os seus caminhos. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Esta Sessão Solene de Homenagem ao Dia Internacional da Mulher, dia oito de março, e que coincide com esta homenagem a nossa nova cidadã, tem também a presença de outras personalidades, familiares, que eu vou citar e convidar para que cheguem aqui, mais perto de nós. Eu quero ver, pelo menos, a Giovanna correndo, aqui pela frente, para fazer travessuras junto com a avó, jovem, a nossa Izabel. Convidamos o Sr. Arines Ibias, esposo da homenageada. Ismália, filha da homenageada. Luciano, filho da homenageada. Convidamos, também, a Sra. Maria de Fátima Reis, representante do Gabinete do Vice-Governador; a Dra. Carmen Mazzardo, representante da OAB; a Sra. Shirley Ferreira, representante do Dep. Paulo Odone; a Sra. Cláudia Fraga, representante do Departamento de Cidadania de Porto Alegre; o Sr. Silvio Lafin, representante do Secretário de Ação Social da Arquidiocese; a Sra. Jaqueline Arvocen, representante da ANG - Associação Nacional de Gerontologia; a Sra. Maria Regina Teixeira, Representante da Biblioteca Pública Lígia Meurer; Sra. Jussara Costa, representante do Conselho Estadual do Idoso em Porto Alegre; Sra. Ronalda Salermo, representante do CGM - Conselho-Geral de Clube de Mães; a Sra. Deusdedite Santos de Souza, Coordenadora do Conselho Municipal de Mães de Porto Alegre.

Queríamos também registrar um Ofício cumprimentando a Sra. Izabel Ibias, da Coordenação dos Direitos Humanos e Cidadania - Assessoria da  Mulher. Assinado por Margareth Nunes.

 Com a palavra a Vera. Maria do Rosário, que falará em nome das Bancadas do PT e do PSD.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: (Saúda os componentes da Mesa.) Não há dúvidas de que a Câmara Municipal de Porto Alegre não poderia deixar de marcar de forma especial essa data, oito de março, que nós reforçamos neste momento com uma homenagem a uma mulher de luta, a Izabel Ibias.

E eu quero dizer, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores e do Partido Socialista Brasileiro, do  nosso desejo, da nossa vontade grande de que nessa data - oito de março - nós possamos, sim, recuperar um pouco da história de luta das mulheres. E dizer que essa data está marcada pela participação das mulheres em todos os tempos para que pudéssemos estar aqui, para que pudéssemos compartilhar um pouco do poder e pudéssemos construir um caminho de igualdade que nos abra espaços, no sentido de que o poder seja vivido por igual, entre todos na sociedade. Quando digo todos, me refiro a nossa presença como mulheres, mas me refiro também a nossa presença como classe, aos trabalhadores - homens e mulheres - que constróem as riquezas por todos os tempos.

Portanto, quero dizer que está marcado para nós que no século passado 129 mulheres foram assassinadas, tecelãs que lutavam pela redução da jornada de trabalho, preocupadas com suas famílias, preocupadas com a vida, com o cotidiano e que, naquele momento, a marca foi a da destruição das mulheres para que se destruísse a sua luta. Mas foi com sabedoria que a Internacional Socialista, anos mais tarde, marcou essa data como o Dia Internacional da Mulher. De lá para cá, sem dúvida, as mulheres apresentaram para a sociedade a nossa condição de sermos parte da História, de sermos protagonistas da História, tantas e tantas vezes de uma forma anônima. Aqui, poderíamos lembrar das gerações  que nos antecederam, das nossas famílias e de como, há 50 anos, nesta Câmara Municipal, Julieta Batisttioli ocupou esta tribuna como mulher, como trabalhadora e, me permitam afirmar, como comunista, representando parte significativa da sociedade. Foi a primeira mulher desta Câmara Municipal e nós, no ano passado, registramos os 50 anos da nossa participação, como mulheres, neste Poder.

Lembramos de outras épocas para podermos transformar o nosso presente e o nosso futuro. Nós temos os nossos sonhos e é verdade que, nos dias de hoje, já estamos aqui neste espaço de poder, já estamos na liderança de partidos, já participamos de diferentes profissões. Eu estou chegando neste momento de um encontro com trabalhadoras da Polícia Civil, humanizando a Polícia Civil. Já estamos pilotando “Boings”, já estamos dirigindo no TRENSURB, já estamos dirigindo ônibus, já estamos dirigindo partes significativas do poder. Rompemos com a nossa presença somente naquelas profissões tidas como femininas e ocupamos o mundo sabendo que cada lugar do mundo é nosso lugar também. Mas nós queremos mais e, quando falamos em saúde, de emprego, quando falamos de terra para trabalhar, quando nós nos traduzimos como herdeiras de Anita Garibaldi, de Angelina, quando nós falamos das mulheres que lutaram contra a ditadura militar, quando nós falamos nas mulheres que estão assumindo diferentes profissões nos dias de hoje,  nós falamos que queremos afirmar uma cultura de igualdade e que a cultura de igualdade pressupõe um respeito absoluto à diferença. Nós queremos, como mulheres, sermos reconhecidas na plenitude das nossas maravilhosas e benditas diferenças. Nós queremos em todo momento poder afirmar, dentro da sociedade, que ela será melhor se nós conquistarmos pela nossa força, pela nossa voz, pela nossa participação, mais espaços de poder, podendo traduzir, dentro destes espaços de poder,  aquilo que foi pautado pela Conferência de Pequim, que é o que nos irmana como melhores de todo o mundo. Ainda no final do milênio, a realidade da exclusão. Ainda no final do milênio, a realidade da opressão, um processo de feminização da pobreza, que deve nos desafiar, porque para os governos do mundo tem sido muito fácil assumir no papel determinados pressupostos, assumir no papel determinadas políticas, mas que na prática, essas políticas só vão se traduzir em verdade quando houver prioridade para questões simples, que são as nossas lutas do cotidiano e de tanto tempo, como um programa específico de saúde para as mulheres que enfrentam no Rio Grande do Sul uma das principais "causas mortis", talvez a principal, que é o câncer de mama. Que consiga traduzir em cada lugar uma política específica. Que diga que as mulheres estão morrendo de AIDS, nessa época e que as mulheres estão morrendo por abortos mal feitos;  que nós não queremos mais conviver com isso e que o nosso discurso precisa se traduzir em verdade, em realidade.

Quero dizer a vocês que este oito de março tem como eixo para as trabalhadoras de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul: saúde, emprego e educação. Que nós participamos, aqui, na Câmara Municipal, ao lado de vocês, abraçando a Izabel Ibias, abraçando a todos vocês, mas que na próxima segunda-feira, no dia oito, no domingo, nós estaremos no Brique da Redenção e, na segunda-feira, nós estaremos abraçando mulheres urbanas e rurais, no Largo Glênio Peres, a partir do meio-dia, numa grande caminhada de protesto que irá até a frente do Palácio Piratini, que dirá que as mulheres querem ser ouvidas, que as mulheres querem saúde, querem emprego, querem trabalhar, querem ganhar terra.

E, como herdeiras de Anita, saberemos levantar as nossas bandeiras com humildade, com coragem,  assumindo o desafio da nossa época de transformarmos o próximo milênio em um tempo de igualdade e de  reconhecimento das maravilhas das nossas diferenças. Recebam o nosso abraço nesta data.  Muito obrigado.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Está com a palavra o Ver. Jocelin Azambuja que falará em nome da sua Bancada, pelo PTB.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, querida amiga Izabel Ibias, demais membros da Mesa, Srs. Vereadores, demais convidados, querido amigo Arines, filhos, neta, para nós é um motivo muito especial estarmos aqui. Primeiro, porque o PTB tem muito da sua história ligado ao trabalho, à mulher, aos avanços que a mulher conquistou ao longo da história, quer no mundo, quer no nosso País. Mas também por ter a oportunidade, hoje, de estar aqui representando a minha Bancada, a nossa companheira Vera. Tereza Franco, que transmite um abraço a Izabel e a todas as mulheres que hoje estão sendo homenageadas nesta Sessão, pela alegria ímpar de poder estar reflexionando sobre a questão da mulher e, ao mesmo tempo, homenageando uma amiga tão querida.

Temos uma origem tão forte que nos liga, eu, Isabel e o Arines, que é o nosso querido Inácio Montanha. Lá estudamos e a Professora Heinrich o conhece  muito bem. A escola está muito bonita e penso que devemos visitá-la. Essa escola é um dos focos que fez com que a Isabel se voltasse para a área do teatro, porque sempre tivemos, no Inácio, o nosso pequeno anfiteatro e o ginásio com palco que muito serviu para atividades culturais e tem servido ao longo da história. Essa relação com a nossa vida estudantil - o Arines e a Izabel que foram colegas de colégio e acabaram casando e constituindo a sua família - tem uma relação muito direta com todo esse trabalho da mulher, a história da mulher, que é a questão educacional, que a Izabel nunca abriu mão de defender e discutir. Lembro, em 1985 na Paraíba, quando nos encontramos e lá estavam mais de cinco mil professores - eu participava como painelista convidado pela Confederação dos Professores do Brasil - e nós, os três, víamos aquela maravilha de mobilização - claro que a massa maior era das mulheres que ali estavam -, mobilizados, justamente, para conquistas no campo da educação. Essa caminhada, a Izabel não perdeu, jamais, de lutar sempre em defesa da educação, em qualquer trincheira que ela estivesse. Trabalhando na área cultural mais intensamente, mas sempre preocupada com a questão educacional; nos seus programas, nos meios de comunicação, sempre esta ligação direta. A mulher tem conquistado o seu espaço na medida em que ela se liberta através do processo de educação, porque ninguém consegue liberdade, ninguém consegue avanços se não for através da liberdade, que só o conhecimento, a educação, a cultura podem nos dar. Por isso, às vezes, discuto com as minhas companheiras, minha ex-companheira de Partido, Sen. Emília, que a  mulher não precisa de percentuais para concorrer em eleições. A nossa Dep. Jussara Cony não chegou na Assembléia porque deram um percentual para ela concorrer, a Vera. Maria do Rosário também não, e outras tantas Vereadoras, a Ana, nenhuma foi eleita porque foi estabelecido um percentual de 25%, 35% para a mulher. A mulher não precisa ser discriminada. Penso que foi um equívoco que se cometeu  neste País  pensar que a mulher precisa disso. Não, a mulher não precisa; a mulher conquista os seus espaços naturalmente. Aqui está o exemplo desta Mesa, onde temos uma representação extremamente qualificada, com exceção do Presidente, no sentido de mulheres que conquistaram espaços maravilhosos, e neste Plenário também. Em todos os setores da atividade humana, a mulher está presente. Não é por nada que hoje, ela ocupa 51% da força de trabalho neste País, não é por nada que a mulher avançou em todos os setores da sociedade, mas avançou pela sua capacidade própria. Não porque nós tenhamos concedido alguma coisa às mulheres. As mulheres precisam conquistar os seus espaços, assim como os homens também. É por isso que hoje a Izabel, pela sua qualificação, está recebendo esta homenagem e não por que ela fosse amiga da Ana. A Vera. Ana reconheceu na Izabel qualidades ímpares e que fazem com que ela mereça essa honraria maior que a Cidade de Porto Alegre lhe confere hoje.

A mulher conquista os seus espaços. A Secretária Iara Wortmann está lá pelas suas qualidades profissionais. A nossa querida Diretora Administrativa da Casa, Sônia Vaz Pinto conquistou o seu espaço como diretora, há muitos anos, pelas qualidades que tem, e é reconhecida por todos os grupos políticos desta Casa.

Então é muito importante que se faça essa reflexão acerca da mulher, pois ela conquistou tudo e têm conquistado pela sua própria capacidade e isso é importante. Este momento que se faz a homenagem à Izabel é um momento para mostrarmos isso. Sugiro à Vera. Maria do Rosário que na caminhada que vai ao Palácio do Governo não esqueça de passar, logicamente, na praça Montevidéu, na Prefeitura, que é um dos poderes constituídos e que merece a atenção de todos aqueles que fazem as suas marchas ou caminhadas. Que batam nas portas do Governo Municipal que tem erros, mas também tem acertos. Batam nas portas do Governo Estadual. Batam nas portas do Governo Federal. Não se omitam de terem a plenitude democrática de suas ações. De saberem que ninguém é o dono da verdade e de quem ninguém é melhor do que ninguém. Ninguém está mais certo do que ninguém nas suas ações, porque todos têm as suas responsabilidades e deveres como cidadãos. As mulheres devem continuar marchando sempre em defesa e na conquista de uma sociedade mais justa, mais séria e melhor. É isso que eu acho que a Izabel deve continuar fazendo: lutar por essa sociedade para que ela seja cada vez mais séria, mais justa e melhor. Lutar ao lado de todos nós, de todos os seus amigos - homens e mulheres -, daqueles que querem, realmente, ver um Brasil crescendo, que avança e que progrida, e que tenha mais educação. Vamos sempre buscar a educação que tanto precisamos. Vamos buscar, justamente, fazer com que se avance em todos os sentidos.

Há pouco eu conversava com a Dra. Cláudia, minha companheira de partido, do Movimento das Mulheres do PTB, sobre o quanto é importante nós estarmos em todos os momentos fortalecendo os princípios de fazer com que todos assumam todos os papéis, que todos assumam todas as responsabilidades. Meus parabéns, Isabel; meus parabéns a todas as mulheres. Eu estou muito feliz, pois jamais pensei que teria essa honra especial de poder dirigir a ti, Isabel, algumas palavras, e de poder dirigir algumas palavras a todas as mulheres, em nome da minha Bancada, dos Vereadores Paulo Brum, Eliseu Sabino, do Presidente desta Casa, Luiz Braz, que hoje está no exercício da Prefeitura Municipal, da Vera. Sônia Santos, que está nas suas caminhadas buscando espaço político, da Vera. Tereza Franco, enfim dos companheiros do PTB. Receba a homenagem do PTB e daqueles que te admiram tanto. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Jocelin Azambuja mal sabe que provocou o meu lado feminino, porque me sinto realmente honrado em estar aqui entre mulheres tão significativas, representativas e importantes. E uma delas me disse que a caminhada de segunda-feira sai da Praça Montevidéu, na Prefeitura, e vai até a Praça da Matriz. Brasília fica um pouco longe.

Registramos a presença do Ver. João Carlos Nedel, do PPB. Há pouco esteve aqui o Diretor-Geral que acumula casualmente neste dia a Vereança em substituição, o Sr. Leão de Medeiros.

O Ver. Pedro Américo Leal está com a palavra.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente da Câmara Municipal em exercício; nossa homenageada Sra. Izabel Ibias. Eu vejo, hoje, uma estranha Mesa: vejo o Presidente cercado por todos os lados e muito satisfeito. Meus Senhores e minhas Senhoras, e a mulher precisa de um dia? A artesã da procriação, a companheira, a grande obreira do dia a dia, precisa de um dia especial? Aparentemente, não! Mas é importante que exista este dia para proporcionar a realização de atividades como a que estamos hoje realizando; serve, pelo menos, para que destaquemos a mulher, no caso a nossa homenageada, esta personagem Izabel Ibias que merece hoje o destaque de toda a Câmara.

A história e o tempo nos evoca mulheres de inegável valor que superaram preocupações, preconceitos e toda a sorte de restrições. Eram tempos diferentes dos dias de hoje, valorizavam figuras de mulheres notáveis como Eva Curie, cientista; Anita Garibaldi, guerreira; Anna Nery, enfermeira; para citar três mulheres que em suas épocas foram exemplos de capacidade, de dedicação, amor, desprendimento, em três diferentes campos de atividades.

E hoje, onde anda a mulher? A mulher deste fim de milênio, que galgou espaço, venceu vestibulares e concursos dos homens, derrubou bolsões de discriminação, mas que enfrenta situações onde é barrada, sofrendo toda a sorte de violências. E no nosso País, no nosso Estado, na nossa Cidade? Esta é a pergunta! A evolução existe, é palpável.  No início deste século, a mulher era uma coadjuvante, cabia-lhe um papel secundário - importante, mas secundário -, submissa ao homem, dependendo dele. Não escolhia seu companheiro. Já houve tempo, era obrigada a conviver com aventuras extraconjugais, calada, perante a sociedade.

Mas a evolução veio. A mulher conquistou o direito do voto, passou à cidadã num esforço incomensurável, extraordinário, trabalha lado a lado com o homem nas fábricas, nos escritórios, no comércio, na área educacional, no ensino superior, nas profissões liberais, exigindo e exibindo força até nas Forças Armadas, na magistratura, na política.

Não foi uma concessão, foi uma conquista. Abriu frentes de trabalho e foi à luta, adicionando a sua função primordial de mãe, de dona-de-casa, de conselheira, funções das quais ela nunca conseguiu se desvencilhar, mas sempre aberta ao consolo e ao afago.

Vocês já compreenderam o mundo sem a ternura e a doçura da mulher? Esta atividade da mulher impressiona, marca o final do milênio. Ela se organiza, prepara-se e vai à luta para eliminar a discriminação que ainda resta: a violência no próprio lar, o assédio nos locais de trabalho e na própria rua. Busca, enfim, a igualdade e já participa com desenvoltura na formação da renda familiar.

A figura da atual mulher brasileira é surpreendente. E digo isso à vontade, não para fazer um discurso. Leiam os jornais, as revistas; vejam os filmes; ela compõe todos os quadros. É versátil, inteligente, brejeira, perspicaz, sem abrir mão de ser meiga. Ela tem que ser mulher, o toque feminino.

Alguns acharam que não cabe comemorar, digo até destacar este dia. Para quê?

Na Câmara Municipal, a mulher pontifica. São cinco mulheres representando diferentes segmentos, que aqui chegaram pelo voto popular, mostrando seriedade, competência, tudo mesclado com um toque de ternura que, na verdade, elas nos deram, é indiscutível.

Eu que convivo diariamente com mulheres - tenho a minha esposa e sete filhos, sendo cinco mulheres sempre digo que não tenho direito a voto, pois, façam as contas e vejam que eu não tenho dois terços,  eu perco qualquer votação na minha casa - fico muito à vontade para proclamar as excelências das qualidades que exaltei. É como que um depoimento que faço. Como soldado que fui, me alinho nesta batalha em que elas passaram, de tropa de apoio, a forças amigas.

Solidarizo-me com a mulher, com os seus movimentos de reivindicação. E concluo, Sr. Presidente, lembrando a minha mãe, que pela coragem e desprendimento devo tudo - ou quase tudo -, pois não conheci o meu pai. Melhor dizendo, uma viúva que trabalhou exaustivamente para que eu estivesse aqui, hoje, falando desta tribuna. Eu fui educado por mulheres. Confesso que, às vezes, até não parece.

Destaco, como exemplo, a luta de mulheres que muito me impressionaram. Duas mulheres me impressionaram neste mundo, são duas estrangeiras. Sabem a quem me refiro? A Helen Adam Keller, cega, muda - falo com emoção - surda, e a sua professora, Ana Sulivan. Pois bem, Ana Sulivan logrou fazer de Helen um fenômeno. Ela, cega, surda e muda, rebelde - todos viram o filme ou leram o livro - não aceitava a sua situação. Pois bem, doutorou-se e dominou o francês, o alemão, o latim e o grego.

A Universidade de Harvard concedeu-lhe o título de Doutora Honoris Causa. E perguntaram, uma vez, a ela, lá pelos oitenta anos, no fim da vida, se ela acreditava em reencarnação. E ela respondeu: “Acredito. É como transpor uma peça de uma casa. Lá, eu poderei ver novamente, poderei ouvir, conquistar, terei chance”. E sabem, a sua expressão no momento é de deslumbramento. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os componentes da Mesa.) Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores. A convenção marcou o dia oito de março como o Dia Internacional da Mulher, mas o Ver. Pedro Américo Leal disse bem: o dia da mulher é todos os dias. Em uma solenidade como esta é preciso ressaltar que a mulher está reassumindo no mundo o papel que lhe cabe.

Originalmente, a sociedade humana partiu do matriarcado, da mulher. A mulher é a matriz do mundo e nós, homens, temos que ter a humildade de reconhecer isso, embora ao longo do tempo nos tornássemos os  senhores do mundo - entre aspas - e a nossa cultura machista tem que ser revisada. Nós não podemos mais continuar agindo do modo como agimos em relação as nossas companheiras, porque, afinal de contas, o homem é composto por duas metades. E hoje, no caso brasileiro, no caso rio-grandense e porto-alegrense, especialmente, a metade maior é mulher, No Rio Grande do Sul existem 100 mil mulheres a mais que homens, e em Porto Alegre a população feminina é maior que a masculina.

Sobre isso temos que refletir. E nas comemorações desse Dia da Mulher, nada melhor do que homenagear uma das mulheres que tem se destacado na Cidade, que é a Izabel. Outras já se destacaram. Nós estamos assistindo a uma contínua projeção da mulher em direção aos cargos mais destacados da sociedade. Mas, no meu entendimento, falta quem se aperceba desse crescimento e dessa importância: o Estado. A instituição que a sociedade criou para dirigir a sociedade ainda não se apercebeu dessa evolução e ainda não contempla a mulher com a posição que a ela deve. O Estado, como instituição, precisa ser aprimorado e precisa entender que a mulher, hoje, representa algo mais do que representava no passado. Ela não é apenas uma força comum de trabalho, ela representa uma cabeça pensante, dirigente. E para isso estão aí as nossas casas, os nossos lares, com as nossas mães, nossas esposas ,que ajudam a construir a sociedade do futuro. Este é o papel da mulher, também, e a ela cabe por isso uma função dirigente muito especial, porque ela sabe para aonde se dirige essa sociedade.

Eu confio que o próximo milênio traga às nossas portas essa nova concepção. Que o Estado brasileiro, rio-grandense, porto-alegrense passe a considerar a mulher no seu devido posto, com o seu valor e que corresponda a ela um lugar na direção desse Estado.

Izabel, meus parabéns! Porto Alegre se orgulha de tê-la como concidadã. E à Mesa e às mulheres no seu dia, também, o nosso abraço muito especial. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

(Procede-se à entrega do Título de Cidadã de Porto Alegre e da Medalha para Izabel Ibias.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a nossa homenageada, Sra. Izabel Ibias.

 

A SRA. IZABEL IBIAS: Em primeiro lugar, quero agradecer esta homenagem a Deus, ao meu Santo Antônio. É muita emoção mesmo. Agradeço aos meus artistas, amigos queridos que me fazem esta surpresa, Sérgio Mantovani, Nádia Martinez, Odete Pacheco, Maju Volkmer, também a voz linda da Elaine Geisler, da Eliane Meleti.

Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Sr. Clovis Ilgenfritz, Vereador desta Cidade; a Mesa, composta por essas mulheres com as quais já trabalho há muitos e muitos anos em muitas frentes; queridos amigos; minha família querida; meu marido; muito obrigada a vocês que estão aqui; meus amigos e colegas da educação e da cultura, da luta pelos direitos das mulheres; queridos Vereadores que me deram esta alegria imensurável de votarem, por unanimidade, no meu nome; querida Anamaria Negroni, uma mulher acima de qualquer suspeita, uma mulher que se despojou do seu Partido político para colocar o meu nome como ganhadora desta medalha e deste diploma de Cidadã Honorífica desta Cidade. Eu quero começar agradecendo, porque somos pessoas privilegiadas; enquanto estamos aqui, há gente morrendo de fome. Nós somos privilegiados e temos que agradecer sempre a Deus por isso. Nós temos saúde para estar aqui. Eu quero começar a agradecer, em primeiro lugar,  à Vera. Anamaria Negroni, esta bela mulher. Aos demais Vereadores, eu já disse, agradeço de coração.

Eu estou nesta Cidade há quarenta e dois anos. Aqui eu cresci, estudei, casei, tive filhos, fiz amigos e vejo a minha neta crescer. Aqui me fiz profissional. Comprometi-me  com o momento histórico em que vivo; a gente não pode passar a vida em branco.

Quero agradecer à minha mãe, onde ela estiver neste momento, e espero, com muita luz. Mulher de garra. Uma verdadeira mãe coragem. Ao chegar nesta Cidade não tinha mais o sorriso nos lábios; o havia perdido nas lutas da vida. Ela chegou com uma certeza, a de propiciar uma vida melhor àqueles que eram a razão de sua existência: a Carmem, a Cledi, a Cleci, o Carlos eu e o Beto. Aqui ela teve mais três filhos: o Jorge, o Antônio e a Aninha. Grandes companheiros de noites mal dormidas e batalhas diárias pela sobrevivência digna. Obrigado companheiros, meus irmãos, pelos dias escuros.   

Todas as histórias são muito parecidas para quem vem do interior em busca de sorte na Capital. E a sorte, graças a Deus, não me faltou. Aqui eu encontrei um porto-alegrense que me dá porto seguro, muito alegre há trinta anos. O nosso amor é Porto Alegre. Obrigada, meu companheiro, amigo, amante de todas as horas. Meu querido Arines. Obrigada, também, a um homem que tem oitenta e um anos e que me deu este marido maravilhoso, a partir de uma época de sua vida. Obrigada Vô Arines!

Aqui eu tive meus filhos, hoje profissionais na Cidade: o Luciano e a Izmália. Ela não está aqui porque está gravando o seu CD. Mas está aqui a minha neta, Giovanna, que cresce como uma promessa de vida e de continuação genética.

Aqui eu fiquei por opção. É claro, eu tive oportunidades de sair, mas eu não quis. Diziam-me que o caminho do aeroporto era o melhor; eu até fui verificar lá fora, mas eu não quis sair, por opção. Eu não quis ser mais uma educadora e uma artista exportada. Eu quis ficar na Cidade que a minha mãe escolheu para que a gente tivesse mais sorte na vida. Pois aqui eu fiquei, fiz amigos e construções na área da educação e da cultura. Criei projetos como o “Ensina-me a Viver” da terceira idade, que me ensina a viver a cada dia. A criação do grupo “Sem Teias”, essas mulheres maravilhosas que me ensinam o que é viver e como viver melhor. Aqui eu construí amigos e estamos todos nós - Vereadores desta Cidade, independente de partidos, vocês que estão aqui sentados, vocês que estão aqui fazendo parte desta Mesa - lutando sem trégua, manhã, tarde e noite, sábados e domingos, todas as horas do nosso dia para termos um mundo mais igualitário, mais justo, com mais paz, que todos temos por direito, por sermos humanos.

Alguém já disse que “vencem na vida aquelas pessoas que buscam as circunstâncias. E quando não as encontram, as criam”. Se eu pensar bem, foi assim a minha vida, a minha caminhada. Foi assim no trabalho com a terceira idade; foi assim na área do cinema, lá pelos anos 70, quando a gente fez o primeiro núcleo de cinema e filmávamos nas nossas casas, com as nossas roupas. Foi assim também na área de educação, construindo juntos as escolas - e graças a Deus agora, com a gestão democrática, se constrói muito mais em conjunto uma escola, uma educação. Foi assim também no Grupo de Teatro Província, em que a gente passava as noites costurando os figurinos e pregando o cenário, para depois estar em cena. Sempre criando circunstâncias.

Quando filmava o Lua de Outubro, cheguei a viajar de ônibus cinco noites por semana. Na sexta-feira à noite, quando deitei na cama, fiz um gesto para deitar o banco. Mas aí eu estava na cama. Para conseguir fazer, devemos buscar as circunstâncias.

Eu creio que tudo se deve à data do meu nascimento, 14 de julho, Queda da Bastilha, acho que disseram: vai ser torta na vida, vai lutar um pouco. E eu agradeço esta força de luta.

Agora, cidadã desta Cidade, uma cidade que me acolheu, uma cidade que foi construída à vista dos meus olhos e eu ajudando, sim, na minha pequena parcela, formiguinha que sou nesta sociedade,  mas com  muita convicção e acreditando em tudo que eu faço. Agora,  me dá este título.

Alguns dizem que eu faço parte de um grupo um pouco louco, um pouco mágico. Aquele grupo que lida com a emoção, com a vida e, também, com  momentos retirados da memória  que são transpostos para o espaço mágico que é o palco. Damos, assim, a nossa contribuição para que possamos construir uma sociedade mais prazerosa, com maior paz e com muito mais justiça social. Trabalhamos com a conscientização, seja na educação, seja na cultura.

Esta Sessão também marca o Dia Internacional da Mulher. E já foi dito aqui, - eu lembro a vocês - o dia em que as mulheres foram queimadas só porque reivindicavam melhores condições de trabalho. Os donos da fábrica assumiram perder  a fábrica queimando, mas queimaram as mulheres vivas dentro dela.

Este oito de março de 1998 mostra a cara da nossa sociedade, na qual as mulheres ainda não têm o atendimento devido a sua saúde física e a sua saúde mental,  na qual  o abuso sexual é diário, na qual  maridos matam dizendo só porque te amo, na qual  ainda temos salários diferenciados para trabalhos  iguais entre homens e mulheres, na qual as meninas engravidam sem saber bem por que e sem ter conhecimento do seu corpo. E aí eu lembro Brecht:  Maria Farrar, nascida em abril, sem sinais particulares, menor de idade, órfã, raquítica, ao que parece matou um menino da maneira que se segue. Sentindo-se sem culpa,  afirma que, grávida de dois meses no porão de uma dona, tentou abortar com duas injeções dolorosas - diz ela -,  mas sem resultado, e bebeu pimenta em pó com álcool, mas o efeito foi apenas de purgante. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda  criatura precisa da ajuda dos outros.

Seu ventre, agora, inchara a olhos vistos, e ela própria, criança, ainda crescia. E lhe veio tal tonteira  no meio das matinas. E chorou também, de angústia, aos pés do altar, mas conservou secreto o estado em que se achava, até que as dores do parto lhe chegaram. Então, tinha acontecido também a ela, assim, feiosa, cair em tentação? Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda a criatura precisa da ajuda dos outros.

E naquele dia, logo de manhã, ao lavar as escadas, sentiu uma pontada como  alfinetadas na barriga. Então, lhe veio na mente que tinha que dar à luz. E, de imediato, sentiu um aperto no coração. Chegou em casa tarde. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda a criatura precisa da ajuda dos outros.

Chamaram-lhe enquanto ainda dormia. Tinha caído neve, e havia que varrê-la. Às onze, terminou, um dia bem comprido. Somente, à noite, pôde parir em paz. E narra que, a esta altura, estava transtornadíssima e meio endurecida, e que nevava dentro da latrina. Ela diz que, entre o quarto e a privada, o menino prorrompeu em prantos. E ela, então, começou socá-lo, às cegas, sem cessar, até que ele parasse de chorar. Depois, ela conservou-o, morto, no leito, junto dela, até o fim da noite. E, de manhã, escondeu-o no lavatório. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda  criatura precisa da ajuda dos outros.

Maria Farrar, nascida em abril, sem sinais particulares. Morta no cárcere de Moisen, garota-mãe, condenada? Só quis mostrar a todos o quanto somos frágeis. Vós, que paris em leitos confortáveis e chamai: bendito o vosso ventre inchado, não deveis execrar os fracos e desamparados. Por obséquio, pois, não voz o indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros. Toda criatura precisa da ajuda dos outros. Nós temos certeza disso, nós,  que trabalhos em grupo,  temos a certeza disso.

Eu quero terminar agradecendo a todos você, agradecendo a emoção que vocês me dão por estarem aqui; agradecendo a emoção que vocês me dão por construírem, tenho certeza, um terceiro milênio mais sensível. Um terceiro milênio no qual não vejamos, como agora, que está morrendo gente, de violência, de fome, de solidão, de inanição; não tem mais força para lutar. Nós queremos continuar a arte de viver da fé. Muito obrigada pela fé que vocês têm na vida.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Movimento da Mulher Trabalhista faz uma homenagem a nossa Cidadã Izabel Ibias, através da Sra. Cláudia Fraga, da Assembléia Legislativa,  e da nossa Diretora, Sônia Vaz, da Câmara Municipal.

 

(Procede-se a homenagem.)

 

Quero dizer a todas as pessoas que estão aqui da importância que tem um momento como este. Queremos dizer também da nossa luta para que todas as pessoas das nossas cidades sejam cidadãs e cidadãos, que exerçam a cidadania. Para nós, Vereadores deste Poder Legislativo que muito nos orgulha, é importante homenagear algumas pessoas que são exemplos para os cidadãos.

O abraço da Câmara, mais uma vez, a Izabel Ibias e a todas as mulheres pelo Dia Internacional da Mulher. Às mães, às avós, às filhas, às netas, às mulheres que tanto nos afagam e nos dão força para vivermos juntos.

Peço a todos que, em pé,  ouçamos o Hino Rio-Grandense.

 

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

 

Está encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h15min.)

 

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