ATA DA PRIMEIRA SESSÃO
SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA,
EM 05.03.1998.
Aos cinco dias do mês de
março do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio
Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às
dezessete horas e quarenta minutos, constatada a existência de “quorum”, o
Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a
homenagear o Dia Internacional da Mulher, nos termos do Requerimento nº 17/98
(Processo nº 266/98), de autoria da Mesa Diretora, e à entrega do Título
Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Senhora Izabel Ibias, nos termos do
Requerimento nº 186/97 (Processo nº 3169/97), de autoria da Vereadora Anamaria
Negroni. Compuseram a MESA: o Vereador Clovis Ilgenfritz, Presidente em
exercício da Câmara Municipal de Porto Alegre; a Senhora Leda Argemi,
Secretária-Substituta da Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer,
representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Senhora Janice
Machado, Secretária-Geral de Governo, representando o Governador do Estado do
Rio Grande do Sul; a Deputado Jussara Cony, representante da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Maria da Glória de Almeida,
Defensora Pública do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Dailce Leite
Miotto, Diretora do CIERGS-FIERGS, representando o Presidente da Federação das
Indústrias do Rio Grande do Sul; a Professora Tânia Heinrich, representando a
Secretária Estadual de Educação; a Senhora Antonieta Barone, Presidente de
Honra da Aliança Francesa e do Centro Franco-Brasileira; a Senhora Izabel
Ibias, Homenageada; a Vereadora Anamaria Negroni, Secretária "ad
hoc". Ainda, foram registradas as presenças do Senhor Arines Ibias, esposo
da Homenageada; dos Senhores Luciano e Ismália Ibias, filhos do Homenageado; da
Senhora Maria de Fátima Reis, representante do Gabinete do Vice-Governador do
Estado; da Senhora Carmen Mazzardo, representante da Ordem dos Advogados do
Brasil; da Senhora Shirley Ferreira, representante do Deputado Paulo Odone; da
Senhora Cláudia Fraga, representante do Departamento de Cidadania de Porto
Alegre; do Senhor Sílvio Lafin, representante do Secretário de Ação Social da Arquidiocese;
da Senhora Jaqueline Arvocen, representante da Associação Nacional de
Gerontologia; da Senhora Maria Regina Teixeira, representante da Biblioteca
Pública Lígia Meurer; da Senhora Jussara Costa, representante do Conselho Estadual
do Idoso em Porto Alegre; da Senhora Ronalda Salermo, representante do
Conselho-Geral de Clube de Mães; da Senhora Deusdedite Santos de Souza, Coordenadora
do Conselho Municipal de Mães de Porto Alegre. Também, foi registrado o
recebimento de correspondência da Senhora Margareth Nunes, da Coordenação dos
Direitos Humanos e Cidadania - Assessoria da Mulher, cumprimentando a
Senhora Izabel Ibias. Em
prosseguimento, o Senhor Presidente
convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e,
após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A
Vereadora Anamaria Negroni, como autora do Requerimento nº 186/97 e em nome das
Bancadas do PSDB, PMDB, PFL e PDT, analisou o significado da luta sempre
empreendida pelas mulheres contra a discriminação e na busca de seus direitos,
discorrendo sobre a vida pessoal e profissional da Senhora Izabel Ibias e
destacando a justeza do Título hoje a ela entregue. A Vereadora Maria do
Rosário, em nome das Bancadas do PT e do PSB, salientou a importância do
registro, pela Casa, do Dia Internacional da Mulher, defendendo o uso desta
data como um momento de reflexão e de recuperação da história da mulher, da sua
procura constante por "um caminho de igualdade que abra espaço, no sentido
de que o poder seja vivido por igual entre todos na sociedade". O Vereador
Jocelin Azambuja, em nome da Bancada do PTB, saudou a Senhora Izabel Ibias,
discorrendo, em especial, sobre a participação de Sua Senhoria nas mobilizações
pelo direito a uma educação melhor para todos os brasileiros. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome
da Bancada do PPB, teceu considerações acerca do Dia Internacional da Mulher,
afirmando que "a história e o tempo nos evocam mulheres de inegável valor
que superaram preocupações, preconceitos e toda sorte de restrições". O
Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, ressaltou que "a
mulher está reassumindo no mundo o papel que lhe cabe", declarando que
"o Estado, como instituição, precisa ser aprimorado, para entender essa
evolução e contemplar a mulher com a posição que a ela cabe". A seguir, o
Senhor Presidente convidou a todos para assistirem, em pé, à entrega da Medalha
e do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Senhora Izabel Ibias pelos
Vereadores Anamaria Negroni e Clovis Ilgenfritz e pela Senhora Leda Argemi.
Também, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Homenageada, que agradeceu o
Título recebido, falando sobre sua atividade artística e analisando a
necessidade de participação de todos para que as mulheres consigam
concretamente conquistar e manter seus direitos sem perder a própria
identidade. Em prosseguimento, as
Senhoras Cláudia Fraga e Sônia Vaz, em nome do Movimento das Mulheres
Trabalhistas e deste Legislativo Municipal, procederam à entrega de lembrança à
Senhora Izabel Ibias. Durante a Sessão, foi apresentado número artístico pelo
Grupo Boca de Cena, integrado pelos atores Sérgio Mantovani, Odette Picheco,
Maju Volkmer, Nádia Martiny e Eliane Melete e dirigido pelo Senhor Arines
Íbias. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para ouvirem, em pé, à
execução do Hino Riograndense, agradeceu a presença de todos e, nada mais
havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e quinze
minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à
hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clovis Ilgenfritz
e secretariados pela Vereadora Anamaria Negroni, Secretária "ad hoc".
Do que eu, Anamaria Negroni, Secretária "ad hoc", determinei
fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será
assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR.
PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Quero cumprimentar todos os presentes, Senhoras,
Senhores, Vereadores e Vereadoras, nossos convidados. Estamos iniciando a 1ª
Sessão Solene, da 2ª Sessão Legislativa Ordinária, desta XII Legislatura. Esta
Sessão Solene é destinada a homenagear o Dia Internacional da Mulher e à
entrega do Título de Cidadã de Porto Alegre a Sra. Izabel Ibias. É com muita
honra que eu presido esta Sessão Solene. Ela acontece em função do Requerimento
nº 17/98 - Proc. nº 266/98 e do Requerimento nº 186/97 - Proc. nº 3169/97. O
primeiro é de proposição da Mesa Diretora e o segundo de proposição da Vera.
Anamaria Negroni.
Para dar início aos
trabalhos, vamos convidar as pessoas para comporem a Mesa, a iniciar pela
representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre, a Sra. Leda Argemi,
Secretária-Substituta da Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer; a
representante do Governador do Estado, Sra. Janice Machado, Secretária-Geral de
Governo; a Sra. Maria da Glória de Almeida, Defensora Pública do Estado do Rio
Grande do Sul; Deputada Jussara Cony, representando a Assembléia Legislativa do
Estado do Rio Grande do Sul; Sra. Dailce Leite Miotto, Diretora da
CIERGS-FIERGS, representando o Presidente da FIERGS; Profa. Tânia Heinrich,
representando a Secretaria Estadual de Educação; Sra. Antonieta Barone,
Presidente de Honra da Aliança Francesa e do Centro Franco-Brasileiro e nossa
Cidadã Emérita, a homenageada, Sra. Izabel Ibias. (Palmas.)
Convidamos todos os
presentes para a execução do Hino
Nacional.
(Executa-se o Hino
Nacional.)
Registramos a presença das
Vereadoras Anamaria Negroni, Maria do Rosário, Vereadores Henrique Fontana,
Pedro Américo Leal, Lauro Hagemann e Jocelin Azambuja.
Está com a palavra a proponente da homenagem, Vera. Anamaria
Negroni, que falará em nome das Bancadas do PSDB, PMDB, PFL e PDT.
A SRA.
ANAMARIA NEGRONI: (Saúda os componentes da Mesa.) Esta Sessão Solene ... Quero salientar
que me encontro inteiramente à vontade para falar nesta Sessão, sendo mulher, e
homenagear o Dia Internacional da Mulher, dia oito de março de cada ano. A
minha tranqüilidade se baseia no fato de que toda a minha vida venho lutando,
em todos os espaços possíveis, através da política comunitária, antes e, agora,
através da política partidária, contra toda e qualquer discriminação: a social,
a racial, a religiosa, a sexual e, sem dúvida nenhuma, a discriminação contra
as mulheres. Infelizmente os movimentos femininos, de forma dura e até
agressiva, num tempo já passado, têm ganho espaços cada vez mais expressivos,
de forma geral. Nossas lutas vêm proporcionando vitórias sobre vitórias. Falta
muito, é verdade, mas estamos chegando, rapidamente, a um lugar que é nosso por
direito. Poderíamos falar, aqui, em tantas mulheres que têm conseguido, hoje,
um espaço que antes era somente de homens. Poderíamos falar da primeira
Tenente, da primeira Desembargadora, da primeira Presidenta da Associação
Brasileira Letras, e assim por diante. Poderíamos falar de mulheres políticas,
desde Cleópatra até as mulheres dos dias de hoje; citando as nossas mulheres
que fazem carreira política no nosso Brasil, como Yeda Crusius, Emília
Fernandes, que hoje são indicadas a pré-candidatas ao Governo do Estado. Temos
aqui nesta Casa, pela primeira vez, entre trinta e três Vereadores, cinco
Vereadoras. A Vera. Maria do Rosário, que foi uma das mais votadas do Brasil e,
embora não seja do meu Partido, acredito que muito orgulha Porto Alegre, aqui
está presente. Com quase 21 mil votos, foi eleita Vereadora desta Capital. Esta
Capital também elegeu mais quatro Vereadoras, e, dessas quatro, tivemos a
felicidade de eleger uma mulher negra, pela primeira vez na história desta
Câmara, acredito que na história da política do Estado do Rio Grande do Sul.
Quero homenagear neste dia,
além dessas cinco Vereadoras, dessas cinco Deputadas, de nossas Deputadas
Federais, de nossa Senadora, nossa Desembargadora, nossa Reitora, quero
homenagear, de forma muito especial, a nossa querida Izabel Ibias, que recebe
de nós uma atenção maior, pois representa, por indicação da Mesa, as mulheres
neste dia tão especial.
Cabe salientar que este
título foi concedido através de Projeto de Lei proposto por esta Vereadora, foi
aprovado por unanimidade nesta Casa. Todos os Vereadores fizeram questão de
assinar o nosso Projeto de Lei, independentemente de partidos. E faço questão
de frisar, inclusive, que embora a nossa querida Izabel Ibias seja uma
militante do PMDB, está sendo homenageada hoje de forma bastante democrática
por todos nós desta Casa, por todos os partidos. Esta minha iniciativa,
inclusive, me honra muito, porque não sou do seu Partido, sou do PSDB e isso é
lindo, isso é a verdadeira democracia. Aqui não se trata de partido político mas
da mulher, da pessoa, da competência.
Izabel Ibias é filha de uma
família de cinco mulheres e quatro homens, certamente, carregou consigo
vitórias e força. A força de alguém que nasceu para lutar e vencer, e daí
vieram as vitórias, que estavam destinadas a ter como palco Porto Alegre, já
que saiu de Santiago - sua terra natal -, com apenas nove anos de idade, vindo
para a nossa Capital. Estudou desde o curso primário até a sua formação em
Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em Pelotas
formou-se em Artes Plásticas pela UFPEL. É pós-graduada - especialização pela
UFRGS e, atualmente, cursa pós-graduação e especialização em Gerontologia
Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Em 1968, Izabel Ibias
começou sua carreira de atriz, de teatro e cinema, e foi, na verdade, o início
de um trabalho que serviu para projetar Porto Alegre, levando a arte e a
cultura de nossa terra além das fronteiras. Foram quarenta e duas peças
teatrais e oito filmes, sendo o último o consagrado "Lua de Outubro",
participante de festivais nacionais e internacionais.
Quanto à indiscutível
qualidade do trabalho e capacidade de Izabel Ibias basta mencionar os inúmeros
prêmios e troféus que recebeu, inclusive, desta Casa, que a distinguiu com o
troféu "Qorpo Santo". Foi consagrada, ainda, com troféus Cultura
Nacional, Cultura Estadual, Distinção, Mulher de Ouro, Escada/Teatro,
Diálogo/Tevê Bandeirantes e Rosas de Maio.
Como Diretora da Casa de
Cultura Mário Quintana, iniciou um trabalho que por si só consagraria Izabel
como uma mulher interessada, integrada à realidade e à sociedade. Foi na Casa
de Cultura que ela abriu espaço para a terceira idade, criando e coordenando
projetos que oportunizaram uma freqüência diária de mais de mil pessoas. Ela é
pioneira no atendimento da terceira idade. Isso nos engrandece, Izabel, porque,
por muitas vezes, as pessoas já na maturidade estão esquecidas. E você as
valorizou na área cultural.
Isabel é criadora e diretora
do grupo de teatro “Sem Teias”, formado por atrizes profissionais de 54 a 80
anos, em atividade há onze anos no Estado. É também criadora e coordenadora do
Projeto "Ensina-me a Viver" de atendimento à terceira idade nas áreas
de educação e cultura. ex-assessora da Associação das Diplomadas
Universitárias, Izabel atualmente é assessora técnica da Secretaria da
Educação, onde coordena ações voltadas para a integração de gerações e a
qualidade de vida. É Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher;
Conselheira do Conselho Estadual do Idoso, como representante da Secretaria de
Educação; Assessora Técnica da Associação Nacional de Gerontologia;
Vice-Presidente Alterna da União Latino-Americana de Mulheres. Além disso, é
destacada apresentadora de televisão, tendo iniciado em 1971 na antiga TV
Gaúcha, hoje RBS TV. Atualmente coordena e apresenta o programa "Viva
Bem" na TVE.
Certamente a qualificação do
trabalho de Izabel Ibias seria suficiente para que esta homenagem estivesse
justificada. No entanto, tudo é pouco diante da mulher que ela é. É na sua
força de mulher aguerrida, na sua capacidade de trabalho, na sua vontade de
lutar e fazer o bem que Izabel consegue um brilho e um destaque maior. E na sua
capacidade de amar o próximo está o segredo de sua trajetória vitoriosa. O
prêmio que recebe, hoje, desta Casa é o reconhecimento por tudo o que foi
relatado aqui. É um prêmio que, posso afirmar, ela divide intimamente com todos
os seus colegas, amigos e companheiros, principalmente aqueles que, muitas
vezes, renasceram em atividades que ela criou para a 3ª idade. O prêmio é de
Arines, seu marido há trinta anos, dos filhos Luciano e Izmália e também da
netinha Giovanna.
Mas o orgulho maior,
indiscutivelmente, é da Cidade, é de todos nós que a partir de hoje entregamos
a Izabel Ibias o Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre.
Gostaria de encerrar meu
pronunciamento dizendo a você Izabel que, neste momento, não a invejo pelo
título que lhe é concedido. Não a invejo, porque sempre vi a inveja como
sentimento alimentado apenas por pessoas mesquinhas, porém a felicito e me
congratulo imensamente com você.
Sinto-me honrada por ter
sido a promotora, o veículo da vontade, não só da unanimidade dos meus Pares
bem como, certamente, de todos os cidadãos desta Capital.
Como mariliense de
nascimento e porto-alegrense de coração e por opção, trabalho e trabalharei
incansavelmente em prol dos discriminados de forma geral e da maioria
desassistida do povo brasileiro. E quem sabe um dia, esta porto-alegrense de
coração possa ter seu trabalho reconhecido pelo povo de Porto Alegre e, desta
forma, ser digna de receber tão honroso título. É trabalhando, é realizando, é
ajudando a construir Porto Alegre que filhos não-naturais desta Capital poderão
ser agraciados com tão excelso honor.
Assim completo minha homenagem,
dizendo que a felicito e que me sentirei muito honrada, quando, um dia, se Deus
quiser e o povo de Porto Alegre assim o decidir, de poder sentar-me ao seu lado
e ao lado dos demais cidadãos de Porto Alegre, cidadãos eméritos e honoríficos
desta Cidade. Parabéns, felicidades e muito sucesso.
Izabel Ibias, tenha certeza
de que este Título apenas servirá como estímulo maior para os seus novos
empreendimentos em prol da nossa querida Porto Alegre. Que Deus continue
iluminando os seus caminhos. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE:
Esta Sessão Solene de Homenagem ao Dia Internacional da Mulher, dia oito de
março, e que coincide com esta homenagem a nossa nova cidadã, tem também a
presença de outras personalidades, familiares, que eu vou citar e convidar para
que cheguem aqui, mais perto de nós. Eu quero ver, pelo menos, a Giovanna
correndo, aqui pela frente, para fazer travessuras junto com a avó, jovem, a
nossa Izabel. Convidamos o Sr. Arines Ibias, esposo da homenageada. Ismália,
filha da homenageada. Luciano, filho da homenageada. Convidamos, também, a Sra.
Maria de Fátima Reis, representante do Gabinete do Vice-Governador; a Dra.
Carmen Mazzardo, representante da OAB; a Sra. Shirley Ferreira, representante
do Dep. Paulo Odone; a Sra. Cláudia Fraga, representante do Departamento de
Cidadania de Porto Alegre; o Sr. Silvio Lafin, representante do Secretário de
Ação Social da Arquidiocese; a Sra. Jaqueline Arvocen, representante da ANG -
Associação Nacional de Gerontologia; a Sra. Maria Regina Teixeira,
Representante da Biblioteca Pública Lígia Meurer; Sra. Jussara Costa,
representante do Conselho Estadual do Idoso em Porto Alegre; Sra. Ronalda
Salermo, representante do CGM - Conselho-Geral de Clube de Mães; a Sra.
Deusdedite Santos de Souza, Coordenadora do Conselho Municipal de Mães de Porto
Alegre.
Queríamos também registrar
um Ofício cumprimentando a Sra. Izabel Ibias, da Coordenação dos Direitos
Humanos e Cidadania - Assessoria da
Mulher. Assinado por Margareth Nunes.
Com a palavra a Vera. Maria do Rosário, que falará em nome das
Bancadas do PT e do PSD.
A SRA. MARIA
DO ROSÁRIO: (Saúda
os componentes da Mesa.) Não há dúvidas de que a Câmara Municipal de Porto
Alegre não poderia deixar de marcar de forma especial essa data, oito de março,
que nós reforçamos neste momento com uma homenagem a uma mulher de luta, a
Izabel Ibias.
E eu quero dizer, em nome da
Bancada do Partido dos Trabalhadores e do Partido Socialista Brasileiro,
do nosso desejo, da nossa vontade
grande de que nessa data - oito de março - nós possamos, sim, recuperar um
pouco da história de luta das mulheres. E dizer que essa data está marcada pela
participação das mulheres em todos os tempos para que pudéssemos estar aqui,
para que pudéssemos compartilhar um pouco do poder e pudéssemos construir um
caminho de igualdade que nos abra espaços, no sentido de que o poder seja
vivido por igual, entre todos na sociedade. Quando digo todos, me refiro a
nossa presença como mulheres, mas me refiro também a nossa presença como
classe, aos trabalhadores - homens e mulheres - que constróem as riquezas por
todos os tempos.
Portanto, quero dizer que
está marcado para nós que no século passado 129 mulheres foram assassinadas,
tecelãs que lutavam pela redução da jornada de trabalho, preocupadas com suas
famílias, preocupadas com a vida, com o cotidiano e que, naquele momento, a
marca foi a da destruição das mulheres para que se destruísse a sua luta. Mas
foi com sabedoria que a Internacional Socialista, anos mais tarde, marcou essa
data como o Dia Internacional da Mulher. De lá para cá, sem dúvida, as mulheres
apresentaram para a sociedade a nossa condição de sermos parte da História, de
sermos protagonistas da História, tantas e tantas vezes de uma forma anônima.
Aqui, poderíamos lembrar das gerações
que nos antecederam, das nossas famílias e de como, há 50 anos, nesta
Câmara Municipal, Julieta Batisttioli ocupou esta tribuna como mulher, como
trabalhadora e, me permitam afirmar, como comunista, representando parte
significativa da sociedade. Foi a primeira mulher desta Câmara Municipal e nós,
no ano passado, registramos os 50 anos da nossa participação, como mulheres,
neste Poder.
Lembramos de outras épocas
para podermos transformar o nosso presente e o nosso futuro. Nós temos os nossos
sonhos e é verdade que, nos dias de hoje, já estamos aqui neste espaço de
poder, já estamos na liderança de partidos, já participamos de diferentes
profissões. Eu estou chegando neste momento de um encontro com trabalhadoras da
Polícia Civil, humanizando a Polícia Civil. Já estamos pilotando “Boings”, já
estamos dirigindo no TRENSURB, já estamos dirigindo ônibus, já estamos
dirigindo partes significativas do poder. Rompemos com a nossa presença somente
naquelas profissões tidas como femininas e ocupamos o mundo sabendo que cada
lugar do mundo é nosso lugar também. Mas nós queremos mais e, quando falamos em
saúde, de emprego, quando falamos de terra para trabalhar, quando nós nos
traduzimos como herdeiras de Anita Garibaldi, de Angelina, quando nós falamos
das mulheres que lutaram contra a ditadura militar, quando nós falamos nas
mulheres que estão assumindo diferentes profissões nos dias de hoje, nós falamos que queremos afirmar uma cultura
de igualdade e que a cultura de igualdade pressupõe um respeito absoluto à
diferença. Nós queremos, como mulheres, sermos reconhecidas na plenitude das
nossas maravilhosas e benditas diferenças. Nós queremos em todo momento poder
afirmar, dentro da sociedade, que ela será melhor se nós conquistarmos pela
nossa força, pela nossa voz, pela nossa participação, mais espaços de poder,
podendo traduzir, dentro destes espaços de poder, aquilo que foi pautado pela Conferência de Pequim, que é o que
nos irmana como melhores de todo o mundo. Ainda no final do milênio, a realidade
da exclusão. Ainda no final do milênio, a realidade da opressão, um processo de
feminização da pobreza, que deve nos desafiar, porque para os governos do mundo
tem sido muito fácil assumir no papel determinados pressupostos, assumir no
papel determinadas políticas, mas que na prática, essas políticas só vão se
traduzir em verdade quando houver prioridade para questões simples, que são as
nossas lutas do cotidiano e de tanto tempo, como um programa específico de
saúde para as mulheres que enfrentam no Rio Grande do Sul uma das principais
"causas mortis", talvez a principal, que é o câncer de mama. Que
consiga traduzir em cada lugar uma política específica. Que diga que as
mulheres estão morrendo de AIDS, nessa época e que as mulheres estão morrendo
por abortos mal feitos; que nós não
queremos mais conviver com isso e que o nosso discurso precisa se traduzir em
verdade, em realidade.
Quero dizer a vocês que este
oito de março tem como eixo para as trabalhadoras de Porto Alegre, do Rio
Grande do Sul: saúde, emprego e educação. Que nós participamos, aqui, na Câmara
Municipal, ao lado de vocês, abraçando a Izabel Ibias, abraçando a todos vocês,
mas que na próxima segunda-feira, no dia oito, no domingo, nós estaremos no
Brique da Redenção e, na segunda-feira, nós estaremos abraçando mulheres
urbanas e rurais, no Largo Glênio Peres, a partir do meio-dia, numa grande
caminhada de protesto que irá até a frente do Palácio Piratini, que dirá que as
mulheres querem ser ouvidas, que as mulheres querem saúde, querem emprego,
querem trabalhar, querem ganhar terra.
E, como herdeiras de Anita,
saberemos levantar as nossas bandeiras com humildade, com coragem, assumindo o desafio da nossa época de
transformarmos o próximo milênio em um tempo de igualdade e de reconhecimento das maravilhas das nossas
diferenças. Recebam o nosso abraço nesta data.
Muito obrigado.
(Não revisto pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE:
Está com a palavra o Ver. Jocelin Azambuja que falará em nome da sua Bancada,
pelo PTB.
O SR. JOCELIN
AZAMBUJA: Sr.
Presidente, querida amiga Izabel Ibias, demais membros da Mesa, Srs.
Vereadores, demais convidados, querido amigo Arines, filhos, neta, para nós é
um motivo muito especial estarmos aqui. Primeiro, porque o PTB tem muito da sua
história ligado ao trabalho, à mulher, aos avanços que a mulher conquistou ao
longo da história, quer no mundo, quer no nosso País. Mas também por ter a
oportunidade, hoje, de estar aqui representando a minha Bancada, a nossa
companheira Vera. Tereza Franco, que transmite um abraço a Izabel e a todas as
mulheres que hoje estão sendo homenageadas nesta Sessão, pela alegria ímpar de
poder estar reflexionando sobre a questão da mulher e, ao mesmo tempo,
homenageando uma amiga tão querida.
Temos uma origem tão forte
que nos liga, eu, Isabel e o Arines, que é o nosso querido Inácio Montanha. Lá
estudamos e a Professora Heinrich o conhece
muito bem. A escola está muito bonita e penso que devemos visitá-la.
Essa escola é um dos focos que fez com que a Isabel se voltasse para a área do
teatro, porque sempre tivemos, no Inácio, o nosso pequeno anfiteatro e o
ginásio com palco que muito serviu para atividades culturais e tem servido ao
longo da história. Essa relação com a nossa vida estudantil - o Arines e a
Izabel que foram colegas de colégio e acabaram casando e constituindo a sua
família - tem uma relação muito direta com todo esse trabalho da mulher, a
história da mulher, que é a questão educacional, que a Izabel nunca abriu mão
de defender e discutir. Lembro, em 1985 na Paraíba, quando nos encontramos e lá
estavam mais de cinco mil professores - eu participava como painelista
convidado pela Confederação dos Professores do Brasil - e nós, os três, víamos
aquela maravilha de mobilização - claro que a massa maior era das mulheres que
ali estavam -, mobilizados, justamente, para conquistas no campo da educação.
Essa caminhada, a Izabel não perdeu, jamais, de lutar sempre em defesa da
educação, em qualquer trincheira que ela estivesse. Trabalhando na área
cultural mais intensamente, mas sempre preocupada com a questão educacional;
nos seus programas, nos meios de comunicação, sempre esta ligação direta. A
mulher tem conquistado o seu espaço na medida em que ela se liberta através do
processo de educação, porque ninguém consegue liberdade, ninguém consegue
avanços se não for através da liberdade, que só o conhecimento, a educação, a
cultura podem nos dar. Por isso, às vezes, discuto com as minhas companheiras,
minha ex-companheira de Partido, Sen. Emília, que a mulher não precisa de percentuais para concorrer em eleições. A
nossa Dep. Jussara Cony não chegou na Assembléia porque deram um percentual
para ela concorrer, a Vera. Maria do Rosário também não, e outras tantas
Vereadoras, a Ana, nenhuma foi eleita porque foi estabelecido um percentual de 25%,
35% para a mulher. A mulher não precisa ser discriminada. Penso que foi um
equívoco que se cometeu neste País pensar que a mulher precisa disso. Não, a
mulher não precisa; a mulher conquista os seus espaços naturalmente. Aqui está
o exemplo desta Mesa, onde temos uma representação extremamente qualificada,
com exceção do Presidente, no sentido de mulheres que conquistaram espaços
maravilhosos, e neste Plenário também. Em todos os setores da atividade humana,
a mulher está presente. Não é por nada que hoje, ela ocupa 51% da força de
trabalho neste País, não é por nada que a mulher avançou em todos os setores da
sociedade, mas avançou pela sua capacidade própria. Não porque nós tenhamos
concedido alguma coisa às mulheres. As mulheres precisam conquistar os seus
espaços, assim como os homens também. É por isso que hoje a Izabel, pela sua
qualificação, está recebendo esta homenagem e não por que ela fosse amiga da
Ana. A Vera. Ana reconheceu na Izabel qualidades ímpares e que fazem com que
ela mereça essa honraria maior que a Cidade de Porto Alegre lhe confere hoje.
A mulher conquista os seus
espaços. A Secretária Iara Wortmann está lá pelas suas qualidades
profissionais. A nossa querida Diretora Administrativa da Casa, Sônia Vaz Pinto
conquistou o seu espaço como diretora, há muitos anos, pelas qualidades que
tem, e é reconhecida por todos os grupos políticos desta Casa.
Então é muito importante que
se faça essa reflexão acerca da mulher, pois ela conquistou tudo e têm
conquistado pela sua própria capacidade e isso é importante. Este momento que
se faz a homenagem à Izabel é um momento para mostrarmos isso. Sugiro à Vera.
Maria do Rosário que na caminhada que vai ao Palácio do Governo não esqueça de
passar, logicamente, na praça Montevidéu, na Prefeitura, que é um dos poderes
constituídos e que merece a atenção de todos aqueles que fazem as suas marchas
ou caminhadas. Que batam nas portas do Governo Municipal que tem erros, mas
também tem acertos. Batam nas portas do Governo Estadual. Batam nas portas do Governo
Federal. Não se omitam de terem a plenitude democrática de suas ações. De
saberem que ninguém é o dono da verdade e de quem ninguém é melhor do que
ninguém. Ninguém está mais certo do que ninguém nas suas ações, porque todos
têm as suas responsabilidades e deveres como cidadãos. As mulheres devem
continuar marchando sempre em defesa e na conquista de uma sociedade mais
justa, mais séria e melhor. É isso que eu acho que a Izabel deve continuar
fazendo: lutar por essa sociedade para que ela seja cada vez mais séria, mais
justa e melhor. Lutar ao lado de todos nós, de todos os seus amigos - homens e
mulheres -, daqueles que querem, realmente, ver um Brasil crescendo, que avança
e que progrida, e que tenha mais educação. Vamos sempre buscar a educação que tanto
precisamos. Vamos buscar, justamente, fazer com que se avance em todos os
sentidos.
Há pouco eu conversava com a
Dra. Cláudia, minha companheira de partido, do Movimento das Mulheres do PTB,
sobre o quanto é importante nós estarmos em todos os momentos fortalecendo os
princípios de fazer com que todos assumam todos os papéis, que todos assumam
todas as responsabilidades. Meus parabéns, Isabel; meus parabéns a todas as
mulheres. Eu estou muito feliz, pois jamais pensei que teria essa honra
especial de poder dirigir a ti, Isabel, algumas palavras, e de poder dirigir
algumas palavras a todas as mulheres, em nome da minha Bancada, dos Vereadores
Paulo Brum, Eliseu Sabino, do Presidente desta Casa, Luiz Braz, que hoje está
no exercício da Prefeitura Municipal, da Vera. Sônia Santos, que está nas suas
caminhadas buscando espaço político, da Vera. Tereza Franco, enfim dos
companheiros do PTB. Receba a homenagem do PTB e daqueles que te admiram tanto.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O
Ver. Jocelin Azambuja mal sabe que provocou o meu lado feminino, porque me
sinto realmente honrado em estar aqui entre mulheres tão significativas,
representativas e importantes. E uma delas me disse que a caminhada de
segunda-feira sai da Praça Montevidéu, na Prefeitura, e vai até a Praça da
Matriz. Brasília fica um pouco longe.
Registramos a presença do
Ver. João Carlos Nedel, do PPB. Há pouco esteve aqui o Diretor-Geral que
acumula casualmente neste dia a Vereança em substituição, o Sr. Leão de
Medeiros.
O Ver. Pedro Américo Leal
está com a palavra.
O SR. PEDRO
AMÉRICO LEAL:
Sr. Presidente da Câmara Municipal em exercício; nossa homenageada Sra. Izabel
Ibias. Eu vejo, hoje, uma estranha Mesa: vejo o Presidente cercado por todos os
lados e muito satisfeito. Meus Senhores e minhas Senhoras, e a mulher precisa
de um dia? A artesã da procriação, a companheira, a grande obreira do dia a
dia, precisa de um dia especial? Aparentemente, não! Mas é importante que
exista este dia para proporcionar a realização de atividades como a que estamos
hoje realizando; serve, pelo menos, para que destaquemos a mulher, no caso a
nossa homenageada, esta personagem Izabel Ibias que merece hoje o destaque de
toda a Câmara.
A história e o tempo nos
evoca mulheres de inegável valor que superaram preocupações, preconceitos e
toda a sorte de restrições. Eram tempos diferentes dos dias de hoje,
valorizavam figuras de mulheres notáveis como Eva Curie, cientista; Anita
Garibaldi, guerreira; Anna Nery, enfermeira; para citar três mulheres que em
suas épocas foram exemplos de capacidade, de dedicação, amor, desprendimento,
em três diferentes campos de atividades.
E hoje, onde anda a mulher?
A mulher deste fim de milênio, que galgou espaço, venceu vestibulares e
concursos dos homens, derrubou bolsões de discriminação, mas que enfrenta
situações onde é barrada, sofrendo toda a sorte de violências. E no nosso País,
no nosso Estado, na nossa Cidade? Esta é a pergunta! A evolução existe, é
palpável. No início deste século, a mulher
era uma coadjuvante, cabia-lhe um papel secundário - importante, mas secundário
-, submissa ao homem, dependendo dele. Não escolhia seu companheiro. Já houve
tempo, era obrigada a conviver com aventuras extraconjugais, calada, perante a
sociedade.
Mas a evolução veio. A
mulher conquistou o direito do voto, passou à cidadã num esforço
incomensurável, extraordinário, trabalha lado a lado com o homem nas fábricas,
nos escritórios, no comércio, na área educacional, no ensino superior, nas
profissões liberais, exigindo e exibindo força até nas Forças Armadas, na
magistratura, na política.
Não foi uma concessão, foi
uma conquista. Abriu frentes de trabalho e foi à luta, adicionando a sua função
primordial de mãe, de dona-de-casa, de conselheira, funções das quais ela nunca
conseguiu se desvencilhar, mas sempre aberta ao consolo e ao afago.
Vocês já compreenderam o
mundo sem a ternura e a doçura da mulher? Esta atividade da mulher impressiona,
marca o final do milênio. Ela se organiza, prepara-se e vai à luta para
eliminar a discriminação que ainda resta: a violência no próprio lar, o assédio
nos locais de trabalho e na própria rua. Busca, enfim, a igualdade e já
participa com desenvoltura na formação da renda familiar.
A figura da atual mulher
brasileira é surpreendente. E digo isso à vontade, não para fazer um discurso.
Leiam os jornais, as revistas; vejam os filmes; ela compõe todos os quadros. É
versátil, inteligente, brejeira, perspicaz, sem abrir mão de ser meiga. Ela tem
que ser mulher, o toque feminino.
Alguns acharam que não cabe
comemorar, digo até destacar este dia. Para quê?
Na Câmara Municipal, a
mulher pontifica. São cinco mulheres representando diferentes segmentos, que
aqui chegaram pelo voto popular, mostrando seriedade, competência, tudo mesclado
com um toque de ternura que, na verdade, elas nos deram, é indiscutível.
Eu que convivo diariamente
com mulheres - tenho a minha esposa e sete filhos, sendo cinco mulheres sempre
digo que não tenho direito a voto, pois, façam as contas e vejam que eu não
tenho dois terços, eu perco qualquer
votação na minha casa - fico muito à vontade para proclamar as excelências das
qualidades que exaltei. É como que um depoimento que faço. Como soldado que
fui, me alinho nesta batalha em que elas passaram, de tropa de apoio, a forças
amigas.
Solidarizo-me com a mulher,
com os seus movimentos de reivindicação. E concluo, Sr. Presidente, lembrando a
minha mãe, que pela coragem e desprendimento devo tudo - ou quase tudo -, pois
não conheci o meu pai. Melhor dizendo, uma viúva que trabalhou exaustivamente
para que eu estivesse aqui, hoje, falando desta tribuna. Eu fui educado por
mulheres. Confesso que, às vezes, até não parece.
Destaco, como exemplo, a
luta de mulheres que muito me impressionaram. Duas mulheres me impressionaram
neste mundo, são duas estrangeiras. Sabem a quem me refiro? A Helen Adam
Keller, cega, muda - falo com emoção - surda, e a sua professora, Ana Sulivan.
Pois bem, Ana Sulivan logrou fazer de Helen um fenômeno. Ela, cega, surda e
muda, rebelde - todos viram o filme ou leram o livro - não aceitava a sua
situação. Pois bem, doutorou-se e dominou o francês, o alemão, o latim e o
grego.
A Universidade de Harvard
concedeu-lhe o título de Doutora Honoris Causa. E perguntaram, uma vez, a ela,
lá pelos oitenta anos, no fim da vida, se ela acreditava em reencarnação. E ela
respondeu: “Acredito. É como transpor uma peça de uma casa. Lá, eu poderei ver
novamente, poderei ouvir, conquistar, terei chance”. E sabem, a sua expressão
no momento é de deslumbramento. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O
Ver. Lauro Hagemann está com a palavra.
O SR. LAURO
HAGEMANN: (Saúda
os componentes da Mesa.) Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores.
A convenção marcou o dia oito de março como o Dia Internacional da Mulher, mas
o Ver. Pedro Américo Leal disse bem: o dia da mulher é todos os dias. Em uma
solenidade como esta é preciso ressaltar que a mulher está reassumindo no mundo
o papel que lhe cabe.
Originalmente, a sociedade
humana partiu do matriarcado, da mulher. A mulher é a matriz do mundo e nós,
homens, temos que ter a humildade de reconhecer isso, embora ao longo do tempo
nos tornássemos os senhores do mundo -
entre aspas - e a nossa cultura machista tem que ser revisada. Nós não podemos
mais continuar agindo do modo como agimos em relação as nossas companheiras,
porque, afinal de contas, o homem é composto por duas metades. E hoje, no caso
brasileiro, no caso rio-grandense e porto-alegrense, especialmente, a metade
maior é mulher, No Rio Grande do Sul existem 100 mil mulheres a mais que
homens, e em Porto Alegre a população feminina é maior que a masculina.
Sobre isso temos que
refletir. E nas comemorações desse Dia da Mulher, nada melhor do que homenagear
uma das mulheres que tem se destacado na Cidade, que é a Izabel. Outras já se
destacaram. Nós estamos assistindo a uma contínua projeção da mulher em direção
aos cargos mais destacados da sociedade. Mas, no meu entendimento, falta quem
se aperceba desse crescimento e dessa importância: o Estado. A instituição que
a sociedade criou para dirigir a sociedade ainda não se apercebeu dessa
evolução e ainda não contempla a mulher com a posição que a ela deve. O Estado,
como instituição, precisa ser aprimorado e precisa entender que a mulher, hoje,
representa algo mais do que representava no passado. Ela não é apenas uma força
comum de trabalho, ela representa uma cabeça pensante, dirigente. E para isso
estão aí as nossas casas, os nossos lares, com as nossas mães, nossas esposas
,que ajudam a construir a sociedade do futuro. Este é o papel da mulher,
também, e a ela cabe por isso uma função dirigente muito especial, porque ela
sabe para aonde se dirige essa sociedade.
Eu confio que o próximo
milênio traga às nossas portas essa nova concepção. Que o Estado brasileiro,
rio-grandense, porto-alegrense passe a considerar a mulher no seu devido posto,
com o seu valor e que corresponda a ela um lugar na direção desse Estado.
Izabel, meus parabéns! Porto
Alegre se orgulha de tê-la como concidadã. E à Mesa e às mulheres no seu dia,
também, o nosso abraço muito especial. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
(Procede-se à entrega do
Título de Cidadã de Porto Alegre e da Medalha para Izabel Ibias.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra a nossa homenageada, Sra. Izabel Ibias.
A SRA. IZABEL
IBIAS: Em
primeiro lugar, quero agradecer esta homenagem a Deus, ao meu Santo Antônio. É
muita emoção mesmo. Agradeço aos meus artistas, amigos queridos que me fazem
esta surpresa, Sérgio Mantovani, Nádia Martinez, Odete Pacheco, Maju Volkmer,
também a voz linda da Elaine Geisler, da Eliane Meleti.
Sr. Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre, Sr. Clovis Ilgenfritz, Vereador desta Cidade; a
Mesa, composta por essas mulheres com as quais já trabalho há muitos e muitos
anos em muitas frentes; queridos amigos; minha família querida; meu marido;
muito obrigada a vocês que estão aqui; meus amigos e colegas da educação e da
cultura, da luta pelos direitos das mulheres; queridos Vereadores que me deram
esta alegria imensurável de votarem, por unanimidade, no meu nome; querida
Anamaria Negroni, uma mulher acima de qualquer suspeita, uma mulher que se
despojou do seu Partido político para colocar o meu nome como ganhadora desta
medalha e deste diploma de Cidadã Honorífica desta Cidade. Eu quero começar
agradecendo, porque somos pessoas privilegiadas; enquanto estamos aqui, há
gente morrendo de fome. Nós somos privilegiados e temos que agradecer sempre a
Deus por isso. Nós temos saúde para estar aqui. Eu quero começar a agradecer,
em primeiro lugar, à Vera. Anamaria
Negroni, esta bela mulher. Aos demais Vereadores, eu já disse, agradeço de
coração.
Eu estou nesta Cidade há
quarenta e dois anos. Aqui eu cresci, estudei, casei, tive filhos, fiz amigos e
vejo a minha neta crescer. Aqui me fiz profissional. Comprometi-me com o momento histórico em que vivo; a gente
não pode passar a vida em branco.
Quero agradecer à minha mãe,
onde ela estiver neste momento, e espero, com muita luz. Mulher de garra. Uma
verdadeira mãe coragem. Ao chegar nesta Cidade não tinha mais o sorriso nos
lábios; o havia perdido nas lutas da vida. Ela chegou com uma certeza, a de
propiciar uma vida melhor àqueles que eram a razão de sua existência: a Carmem,
a Cledi, a Cleci, o Carlos eu e o Beto. Aqui ela teve mais três filhos: o
Jorge, o Antônio e a Aninha. Grandes companheiros de noites mal dormidas e
batalhas diárias pela sobrevivência digna. Obrigado companheiros, meus irmãos,
pelos dias escuros.
Todas as histórias são muito
parecidas para quem vem do interior em busca de sorte na Capital. E a sorte,
graças a Deus, não me faltou. Aqui eu encontrei um porto-alegrense que me dá
porto seguro, muito alegre há trinta anos. O nosso amor é Porto Alegre.
Obrigada, meu companheiro, amigo, amante de todas as horas. Meu querido Arines.
Obrigada, também, a um homem que tem oitenta e um anos e que me deu este marido
maravilhoso, a partir de uma época de sua vida. Obrigada Vô Arines!
Aqui eu tive meus filhos,
hoje profissionais na Cidade: o Luciano e a Izmália. Ela não está aqui porque
está gravando o seu CD. Mas está aqui a minha neta, Giovanna, que cresce como
uma promessa de vida e de continuação genética.
Aqui eu fiquei por opção. É
claro, eu tive oportunidades de sair, mas eu não quis. Diziam-me que o caminho
do aeroporto era o melhor; eu até fui verificar lá fora, mas eu não quis sair,
por opção. Eu não quis ser mais uma educadora e uma artista exportada. Eu quis
ficar na Cidade que a minha mãe escolheu para que a gente tivesse mais sorte na
vida. Pois aqui eu fiquei, fiz amigos e construções na área da educação e da
cultura. Criei projetos como o “Ensina-me a Viver” da terceira idade, que me
ensina a viver a cada dia. A criação do grupo “Sem Teias”, essas mulheres
maravilhosas que me ensinam o que é viver e como viver melhor. Aqui eu construí
amigos e estamos todos nós - Vereadores desta Cidade, independente de partidos,
vocês que estão aqui sentados, vocês que estão aqui fazendo parte desta Mesa -
lutando sem trégua, manhã, tarde e noite, sábados e domingos, todas as horas do
nosso dia para termos um mundo mais igualitário, mais justo, com mais paz, que
todos temos por direito, por sermos humanos.
Alguém já disse que “vencem
na vida aquelas pessoas que buscam as circunstâncias. E quando não as encontram,
as criam”. Se eu pensar bem, foi assim a minha vida, a minha caminhada. Foi
assim no trabalho com a terceira idade; foi assim na área do cinema, lá pelos
anos 70, quando a gente fez o primeiro núcleo de cinema e filmávamos nas nossas
casas, com as nossas roupas. Foi assim também na área de educação, construindo
juntos as escolas - e graças a Deus agora, com a gestão democrática, se
constrói muito mais em conjunto uma escola, uma educação. Foi assim também no
Grupo de Teatro Província, em que a gente passava as noites costurando os
figurinos e pregando o cenário, para depois estar em cena. Sempre criando
circunstâncias.
Quando filmava o Lua de
Outubro, cheguei a viajar de ônibus cinco noites por semana. Na sexta-feira à
noite, quando deitei na cama, fiz um gesto para deitar o banco. Mas aí eu
estava na cama. Para conseguir fazer, devemos buscar as circunstâncias.
Eu creio que tudo se deve à
data do meu nascimento, 14 de julho, Queda da Bastilha, acho que disseram: vai
ser torta na vida, vai lutar um pouco. E eu agradeço esta força de luta.
Agora, cidadã desta Cidade,
uma cidade que me acolheu, uma cidade que foi construída à vista dos meus olhos
e eu ajudando, sim, na minha pequena parcela, formiguinha que sou nesta
sociedade, mas com muita convicção e acreditando em tudo que eu
faço. Agora, me dá este título.
Alguns dizem que eu faço
parte de um grupo um pouco louco, um pouco mágico. Aquele grupo que lida com a
emoção, com a vida e, também, com
momentos retirados da memória
que são transpostos para o espaço mágico que é o palco. Damos, assim, a
nossa contribuição para que possamos construir uma sociedade mais prazerosa,
com maior paz e com muito mais justiça social. Trabalhamos com a
conscientização, seja na educação, seja na cultura.
Esta Sessão também marca o
Dia Internacional da Mulher. E já foi dito aqui, - eu lembro a vocês - o dia em
que as mulheres foram queimadas só porque reivindicavam melhores condições de
trabalho. Os donos da fábrica assumiram perder
a fábrica queimando, mas queimaram as mulheres vivas dentro dela.
Este oito de março de 1998
mostra a cara da nossa sociedade, na qual as mulheres ainda não têm o
atendimento devido a sua saúde física e a sua saúde mental, na qual
o abuso sexual é diário, na qual
maridos matam dizendo só porque te amo, na qual ainda temos salários diferenciados para
trabalhos iguais entre homens e
mulheres, na qual as meninas engravidam sem saber bem por que e sem ter conhecimento
do seu corpo. E aí eu lembro Brecht:
Maria Farrar, nascida em abril, sem sinais particulares, menor de idade,
órfã, raquítica, ao que parece matou um menino da maneira que se segue.
Sentindo-se sem culpa, afirma que,
grávida de dois meses no porão de uma dona, tentou abortar com duas injeções
dolorosas - diz ela -, mas sem
resultado, e bebeu pimenta em pó com álcool, mas o efeito foi apenas de
purgante. Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Seu ventre, agora, inchara a
olhos vistos, e ela própria, criança, ainda crescia. E lhe veio tal
tonteira no meio das matinas. E chorou
também, de angústia, aos pés do altar, mas conservou secreto o estado em que se
achava, até que as dores do parto lhe chegaram. Então, tinha acontecido também
a ela, assim, feiosa, cair em tentação? Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda a criatura precisa da ajuda dos outros.
E naquele dia, logo de
manhã, ao lavar as escadas, sentiu uma pontada como alfinetadas na barriga. Então, lhe veio na mente que tinha que
dar à luz. E, de imediato, sentiu um aperto no coração. Chegou em casa tarde.
Mas vós, por favor, não vos indigneis. Toda a criatura precisa da ajuda dos
outros.
Chamaram-lhe enquanto ainda
dormia. Tinha caído neve, e havia que varrê-la. Às onze, terminou, um dia bem
comprido. Somente, à noite, pôde parir em paz. E narra que, a esta altura,
estava transtornadíssima e meio endurecida, e que nevava dentro da latrina. Ela
diz que, entre o quarto e a privada, o menino prorrompeu em prantos. E ela,
então, começou socá-lo, às cegas, sem cessar, até que ele parasse de chorar.
Depois, ela conservou-o, morto, no leito, junto dela, até o fim da noite. E, de
manhã, escondeu-o no lavatório. Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos
outros.
Maria Farrar, nascida em
abril, sem sinais particulares. Morta no cárcere de Moisen, garota-mãe,
condenada? Só quis mostrar a todos o quanto somos frágeis. Vós, que paris em
leitos confortáveis e chamai: bendito o vosso ventre inchado, não deveis
execrar os fracos e desamparados. Por obséquio, pois, não voz o indigneis. Toda
criatura precisa da ajuda dos outros. Toda criatura precisa da ajuda dos
outros. Nós temos certeza disso, nós,
que trabalhos em grupo, temos a
certeza disso.
Eu quero terminar
agradecendo a todos você, agradecendo a emoção que vocês me dão por estarem
aqui; agradecendo a emoção que vocês me dão por construírem, tenho certeza, um
terceiro milênio mais sensível. Um terceiro milênio no qual não vejamos, como
agora, que está morrendo gente, de violência, de fome, de solidão, de inanição;
não tem mais força para lutar. Nós queremos continuar a arte de viver da fé.
Muito obrigada pela fé que vocês têm na vida.
(Não revisto pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE:
O Movimento da Mulher Trabalhista faz uma homenagem a nossa Cidadã Izabel
Ibias, através da Sra. Cláudia Fraga, da Assembléia Legislativa, e da nossa Diretora, Sônia Vaz, da Câmara
Municipal.
(Procede-se a homenagem.)
Quero dizer a todas as
pessoas que estão aqui da importância que tem um momento como este. Queremos
dizer também da nossa luta para que todas as pessoas das nossas cidades sejam
cidadãs e cidadãos, que exerçam a cidadania. Para nós, Vereadores deste Poder
Legislativo que muito nos orgulha, é importante homenagear algumas pessoas que
são exemplos para os cidadãos.
O abraço da Câmara, mais uma
vez, a Izabel Ibias e a todas as mulheres pelo Dia Internacional da Mulher. Às
mães, às avós, às filhas, às netas, às mulheres que tanto nos afagam e nos dão
força para vivermos juntos.
Peço a todos que, em
pé, ouçamos o Hino Rio-Grandense.
(É executado o Hino
Rio-Grandense.)
Está encerrada a presente
Sessão Solene.
(Encerra-se a Sessão às
19h15min.)
* * * * *